O que é a PrEP? E a PEP?

A profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP) consiste no uso de antirretrovirais (ARV) para reduzir o risco de adquirir a infecção pelo HIV. Essa estratégia se mostrou eficaz e segura em pessoas com risco aumentado de ser infectado. Na PrEP usamos diariamente as medicações preventivas antes da exposição de risco.
Já na PEP, a prevenção consiste em oferecer os antirretrovirais em até 72 horas após a exposição. A PEP é feita com combinação de 3 antirretrovirais por 28 dias visando prevenir após ter ocorrido a exposição.
Resumindo:
- PrEP: antes da exposição com risco de contrair o HIV
- PEP: depois da exposição com risco de contrair o HIV
As duas modalidades de prevenção estão disponíveis no Brasil pelo SUS dentro do contexto que chamamos de prevenção combinada.

Como funciona a profilaxia pré-exposição para impedir novas infecções pelo HIV?

Diariamente, pessoas vulneráveis fazem uso de uma medicação por via oral.
A posologia dessa medicação consiste no uso diário. O sucesso dessa prevenção está relacionado à adesão, ou seja, o uso correto e sem falhas.
Os estudos de aprovação e de vida real demonstram a eficácia dessa intervenção.

Quais seriam os principais fatores para o uso das medicações da PrEP para se proteger contra o HIV?

Pessoas vulneráveis à aquisição do vírus HIV são os candidatos ideais para iniciar a PrEP. Algumas perguntas são importantes na avaliação inicial:
- Repetição de práticas sexuais anais e/ou vaginais com penetração sem o uso de preservativo
- Frequência das relações sexuais com parcerias eventuais
- Quantidade e diversidade de parcerias sexuais
- Histórico de episódios de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs)
- Uso frequente da Profilaxia Pós-Exposição (PEP)
- Contextos de troca de sexo por dinheiro, objetos de valor, drogas, moradia, etc.

Quais exames são fundamentais para se realizar antes de iniciar o uso da PrEP?

Antes de iniciar a PrEP deve-se descartar que o paciente seja HIV positivo, ou seja, o teste anti-HIV deve ser solicitado. É preciso investigar se nas últimas semanas, antes de buscar a PrEP, o paciente teve relações desprotegidas (em virtude da janela imunológica) e se tem sinais ou sintomas que podem corresponder a infecção aguda pelo HIV (febre, gânglios, dor de garganta, diarreia, entre outros). Nesse caso o profissional que estiver fazendo a avaliação deverá ter cuidado para descartar se o paciente já está infectado pelo HIV.
Também é fundamental ter o resultado de exames relacionados ao rim e ao fígado, além de realizar a testagem sorológica das principais infecções sexualmente transmissíveis (hepatite A, B e C, sífilis). Muitas vezes também é feita a pesquisa na urina e genitais de agentes infecciosos como o gonococo que causa a gonorréia e a clamídia na urina e nos genitais.

Onde eu posso conseguir essa medicação visando a prevenção? SUS? Rede privada de saúde?

A medicação é disponibilizada pelo SUS, mas existe a possibilidade de comprá-la em farmácias específicas, sempre com prescrição médica. Existem centros de referências espalhados pelo Brasil que fornecem a PrEP via SUS, sendo necessário procurá-los e realizar um cadastro para agendamento de uma consulta.

Quais as situações em que se deve interromper o uso da PrEP?

- Paciente não quer mais usar por não ter mais comportamento de risco que justifique o uso naquele momento
- Evento adverso grave com relação ao uso de PrEP
- Quando ocorrer soroconversão pelo HIV
- Se for observada uma redução no clearance de creatinina estimado em indivíduos não infectados durante uso dos antiretrovirais, devem-se avaliar as causas potenciais e reavaliar os riscos e benefícios potenciais de continuar o seu uso.
- Antes de interromper o uso da PrEP, o médico prescritor deve ser consultado.

Mulheres também podem ser candidatas ao uso dessa medicação?

Sim, nas seguintes situações:
- comportamento sexual com risco ( profissionais do sexo ou com parceiros bissexuais);
- usuárias de drogas endovenosas;
- Casais sorodiscordantes (HIV+).

Qualquer médico pode prescrever a PrEP para os candidatos ao uso?

Sim, sempre considerando que sejam realizadas as rotinas previstas pela bula do antiretroviral.

Se eu começar a tomar a PrEP posso interromper a qualquer momento e depois retomar o seu uso?

Sim, a interrupção pode acontecer caso o paciente não tenha mais exposições que o coloque em risco de adquirir o HIV. Outras situações relacionadas a interrupção são eventos adversos ou soroconversão para o HIV. Entretanto o tratamento só deve ser interrompido pelo seu médico.

Existem casos de falha em que a pessoa contraiu o HIV mesmo tomando adequadamente a medicação? Qual é a chance de a medicação falhar?

As falhas estão relacionadas principalmente se os pacientes não fizerem o uso adequado da PrEP. Em pacientes com boa adesão é um cenário bastante raro. Existem poucos casos no mundo de falha com o uso regular dessa medicação (4-5 casos descritos nos estudos e relatos na literatura).

Quanto tempo depois de início do uso da PrEP já temos proteção contra o HIV?

Os dados de estudos farmacocinéticos (percurso do medicamento no organismo) realizados em homens e mulheres não infectados com HIV forneceram informações sobre o tempo necessário para atingir níveis de proteção no sangue periférico e nos tecidos retal e vaginal:
- Em homens HSH (homens que fazem sexo com homens): 7 dias
- Em mulheres: 20 dias
Assim deve-se esperar esse período para ter maior garantia da proteção.

A PrEP protege contra as outras infecções sexualmente transmissíveis?

Muito importante frisar que a PrEP não protege contra outras ISTs e o uso de preservativos deve ser sempre estimulado como parte do contexto da prevenção combinada. Daí a importância de realizar sorologias e exames para essas ISTs a cada 3 meses em usuários dessa prevenção.
Lembre-se que temos vacinas que estão disponíveis pelo SUS e podem ser recomendadas para cada paciente.

Quais são as vacinas disponíveis para outras ISTs? Onde conseguir essas vacinas?

Temos vacinas extremamente eficazes e seguras para algumas ISTs. Dentre elas:
- Vacina contra a hepatite A
- Vacina contra a hepatite B
- Vacina contra HPV (papilomavírus humano)
*Não temos vacinas disponíveis para sífilis e hepatite C.
A indicação dessas vacinas deve ser realizada por profissionais médicos depois de se avaliar os resultados de sorologias solicitadas.

De quanto em quanto tempo pessoas usando a PrEP devem ser testadas para o HIV e para outras ISTs?

O primeiro retorno deve ser feito após 30 dias e posteriormente a cada 90 dias, avaliando funções renais e hepáticas e sorologias para HIV, hepatites virais e sífilis em cada uma dessas visitas. Todavia se o paciente apresentar algum problema entre essas consultas deve procurar o profissional que faz o seu acompanhamento.

Durante o uso dessa prevenção é necessário acompanhamento? De quanto em quanto tempo?

Todo paciente em uso de profilaxia deve ter um acompanhamento médico. Após o início deve ser programado um retorno em 30 dias e depois disso retornos trimestrais para checar exames, sorologias e rever a indicação de continuar ou não com a medicação. Todavia, se o paciente apresentar algum problema entre essas consultas deve procurar o profissional que acompanha o seu tratamento (médico).

A PrEP pode trazer danos graves para o rim e aos ossos?

Muito raramente temos alterações renais e ósseas com contexto de gravidade. Quando isso acontece, com a imediata suspensão dessa medicação os exames relacionados a parte renal e óssea voltam a se normalizar na maioria absoluta dos casos.

Existem muitas pessoas tomando PrEP no Brasil? E no mundo?

Segundo dados do Ministério da Saúde no Brasil, até o final de 2018, aproximadamente 8 mil pessoas tinham acesso pelo PrEP via Sistema Único de Saúde (SUS). No mundo temos cerca de 500 mil pessoas em uso, sendo a maioria delas nos Estados Unidos e alguns países da Europa. A implementação ainda está em fase inicial no mundo e existe um desafio enorme a ser alcançado para a expansão global principalmente em grupos vulneráveis onde a epidemia de HIV ainda não está controlada.

A PrEP pode ajudar barrar a epidemia no mundo de HIV?

Definitivamente sim, e em algumas cidades no mundo onde os projetos de implementação da PrEP se ampliaram houve uma redução na incidência do HIV (novos casos). Exemplos marcantes são cidades dos Estados Unidos como São Francisco e Nova York, assim como Sidney (Austrália). Números consistentes desses locais mostram uma diminuição importante do diagnóstico paralelamente ao crescimento de usuários de PrEP.

MÉDICO RESPONSÁVEL PELO CONTEÚDO DAS FAQ:

Dr. Álvaro Furtado da Costa
CRM: SP 108207

REFERÊNCIAS:
1. Prevenção Combinada. Disponível em http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/previna-se (acessado em 12/04/2019)
2. MS/SVS/Departamento de IST, AIDS e Hepatites Virais 2018. Disponível em http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2018/boletim-epidemiologico-hivaids-2018 (acessado em 12/04/2019)
3. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Profilaxia Pré -Exposição (PrEP) de Risco à Infecção pelo HIV. 2018. Disponível em: http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2017/protocolo-clinico-ediretrizes-terapeuticas-para-profilaxia-preexposicao-prep-de-risco